Sepse em unidade de terapia intensiva em um hospital público: estudo da prevalência, critérios diagnósticos, fatores de risco e mortalidade / Sepsis in an intensive care unit in a public hospital: study of prevalence, diagnostic criteria, risk and mortality factors

Authors

  • Henrique Fernandes de Moura Pires
  • Felinto Cardoso Pereira
  • Matheus da Silva Ribeiro
  • Joana D’arc Gonçalves da Silva

DOI:

https://doi.org/10.34117/bjdv6n7-862

Keywords:

Sepse, Unidade de Terapia Intensiva, Critérios diagnósticos, Mortalidade.

Abstract

A sepse é uma condição clínica resultante de uma desregulada resposta inflamatória a uma infecção, sendo a principal causa de morte em UTIs. Os patógenos mais envolvidos são: bacilos gram-negativos (Klebsiella spp. e Pseudomonas aeruginosa) e cocos gram-positivos (principalmente Staphylococci). Os principais fatores de risco para a doença são a presença de comorbidades, como diabetes mellitus, população idosa e o longo tempo de internação. Em relação aos critérios e definições para sepse, estes sofreram consideráveis revisões, sendo que a última foi em 2016 com a publicação do “Sepsis 3”. Segundo o Instituto Latino Americano da Sepse (ILAS), os novos conceitos não se aplicam à realidade brasileira, que possui baixa sensibilidade diagnóstica. O trabalho teve como objetivo investigar as características clínicas e diagnósticas, microbiológicas e epidemiológicas de pacientes com o diagnóstico de sepse internados na UTI do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN). Os critérios de inclusão foram: pacientes admitidos na UTI do HRAN, internados por 24 horas ou mais com diagnóstico de sepse em 2017. Foram excluídos: pacientes sem diagnóstico de sepse. Os dados foram tabulados no programa Excel e analisados no Statistical Package of Social Science (SPSS) versão 20.0. Os resultados foram apresentados de forma descritiva adotando-se números absolutos e porcentagens. No estudo, 81 pacientes preencheram os critérios de inclusão. Na amostra, 49 pacientes eram do sexo masculino (60,49%) e 32 do sexo feminino (39,50%). A média de idade foi de 56 anos. A mortalidade foi de 58,02% (47 óbitos), sendo que, dentre os óbitos, 65,95% eram do sexo masculino e 34,04% do sexo feminino. Em relação ao foco infeccioso, os 3 sítios mais incidentes foram: respiratório (45,67%), abdominal (24,69%) e urinário (8,64%). Em relação à identificação do patógeno, 75,30% tiveram diagnóstico etiológico indeterminado, e, dentre as bactérias identificadas, Pseudomonas spp. (6,17%), Klebsiella spp. (3,70%) e Staphylococcus aureus (2,47%) foram as mais incidentes. Em relação a comorbidades, as mais prevalentes foram a Hipertensão Arterial Sistêmica (43,20%), Diabetes Mellitus (33,33%) e Doença Renal Crônica (6,172%). Em relação à análise estatística do impacto da idade na mortalidade, foi evidenciado em nosso estudo que os idosos morrem significativamente mais por sepse que os não idosos. Quando se avalia a chance de sobreviver é 3,08 vezes maior nos mais jovens ou a razão de prevalência é de 0,63, ou seja, ser mais jovem atua como um fator de proteção, sendo o valor de p = 0,016. Com o estudo, pôde-se observar que a sepse ainda apresenta alta mortalidade em UTI, o que corrobora com outros estudos acerca do tema, além da identificação de fatores de risco (como idade e comorbidades), que estão associados a mau prognóstico. Os focos infecciosos mais incidente foram congruentes com a literatura: pulmonar, abdominal e urinário.

References

BARROS, Lea Lima dos Santos; MAIA, Cristiane do Socorro Ferraz; MONTEIRO, Marta Chagas. Risk factors associated to sepsis severity in patients in the Intensive Care Unit. Cadernos Saúde Coletiva, v. 24, n. 4, p. 388-396, 2016.

BEALE, Richard et al. Promoting Global Research Excellence in Severe Sepsis (PROGRESS): lessons from an international sepsis registry. Infection, v. 37, n. 3, p. 222-232, 2009.

BEARDSLEY, James R. et al. Pharmacist involvement in a multidisciplinary initiative to reduce sepsis-related mortality. American Journal of Health-System Pharmacy, v. 73, n. 3, p143-149, 2016.

BESEN, Bruno Adler Maccagnan Pinheiro, et al. Sepsis-3 definitions predict ICU mortality in a low–middle-income country. Annals of Intensive Care, v.6, n.1, p.107, 2016.

BONE, Roger C. et al. Definitions for sepsis and organ failure and guidelines for the use of innovative therapies in sepsis. Chest, v. 101, n. 6, p. 1644-1655, 1992.

CARSON, William F. et al. Epigenetic regulation of immune cell functions during post-septic immunosuppression. Epigenetics, v. 6, n. 3, p. 273-283, 2011.

CARVALHO, Paulo R.A.; TROTTA, Eliana de A.. Avanços no diagnóstico e tratamento da sepse. J. Pediatr., v. 79, supl. 2, p. S195-S204, 2003 .

CRUZ, Leonardo Lopes; MACEDO, Cícero Cruz. Perfil Epidemiológico da Sepse em Hospital de Referência no Interior do Ceará. Revista de psicologia, v. 10, n. 29, p. 71-99, 2016.

FREUND, Yonathan et al. Prognostic accuracy of sepsis-3 criteria for in-hospital mortality among patients with suspected infection presenting to the emergency department. Jama, v. 317, n. 3, p. 301-308, 2017.

GATTARELLO, Simone et al. Decrease in mortality in severe community-acquired pneumococcal pneumonia: impact of improving antibiotic strategies (2000-2013). CHEST Journal, v. 146, n. 1, p. 22-31, 2014.

GEORGINA, Casey. ‘Could this be sepsis?’ Disponível em: https://www.thefreelibrary.com/%27Could+this+be+sepsis%3f%27.-a0461530013. Acesso em: 03 Maio 2017.

GUIDO, Marcello et al. In vitro diagnosis of sepsis: a review. Pathology and laboratory medicina international, v. 8, p. 1-14, 2016.

INSTITUTO LATINO AMERICANO DA SEPSE. Sepse: um problema de saúde pública. DisponÍvel em:<http://www.ilas.org.br/assets/arquivos/ferramentas/livro-sepse-um-problema-de-saude-publica-cfm-ilas.pdf>. Acesso em: 30 Mar. 2017.

JACOB, Shevin T. et al. The impact of early monitored management on survival in hospitalized adult Ugandan patients with severe sepsis: a prospective intervention study. Critical care medicine, v. 40, n. 7, p. 2050, 2012.

JUNCAL, Verena Ribeiro et al. Impacto clínico do diagnóstico de sepse à admissão em UTI de um hospital privado em Salvador, Bahia. J bras pneumol, v. 37, n. 1, p. 85-92, 2011.

KARNATOVSKAIA, Lioudmila V.; FESTIC, Emir. Sepsis A Review for the Neurohospitalist. The Neurohospitalist, v. 2, n. 4, p. 144-153, 2012.

KUMAR, Anand et al. Duration of hypotension before initiation of effective antimicrobial therapy is the critical determinant of survival in human septic shock. Critical care medicine, v. 34, n. 6, p. 1589-1596, 2006.

LEVY, Mitchell M. et al. 2001 sccm/esicm/accp/ats/sis international sepsis definitions conference. Intensive care medicine, v. 29, n. 4, p. 530-538, 2003.

MACEDO, Jefferson et al. Sepse no paciente queimado: estudo microbiológico e da sensibilidade antimicrobiana. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, v. 20, n. 4, p. 220-224, 2001.

MACHADO, Flavia Ribeiro et al. Getting a consensus: advantages and disadvantages of Sepsis 3 in the context of middle-income settings. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 28, n. 4, p. 361-365, 2016.

NORITOMI, Danilo Teixeira et al. Implementation of a multifaceted sepsis education program in an emerging country setting: clinical outcomes and cost-effectiveness in a long-term follow-up study. Intensive care medicine, v. 40, n. 2, p. 182-191, 2014.

NOVOSAD, Shannon A. Vital Signs: Epidemiology of Sepsis: Prevalence of Health Care Factors and Opportunities for Prevention. MMWR. Morbidity and Mortality Weekly Report, v. 65, p.864-869, 2016.

OLIVEIRA, Adriana Cristina et al. Nosocomial infections and bacterial resistance in patients from a Teaching Hospital Intensive Care Unit. Online Brazilian Journal of Nursing, v. 6, n. 2, ago. 2007. Disponível em: <http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/837>. Acesso em: 04 Maio 2017.

PETERS, Joanna; COHEN, Jonathan. Sepsis. Medicine, v. 41, n. 11, p. 667-669, 2013.

RAITH, Eamon P. et al. Prognostic accuracy of the SOFA score, SIRS criteria, and qSOFA score for in-hospital mortality among adults with suspected infection admitted to the intensive care unit. Jama, v. 317, n. 3, p. 290-300, 2017.

RHODES, Andrew et al. Surviving sepsis campaign: international guidelines for management of sepsis and septic shock: 2016. Intensive care medicine, v. 43, n. 3, p. 304-377, 2017.

SALES JÚNIOR, J. A. L. et al. Sepse Brasil: estudo epidemiológico da sepse em unidades de terapia intensiva brasileiras. Rev Bras Ter Intensiva, v. 18, n. 1, p. 9-17, 2006.

SANTOS, Alice Veras et al. Perfil epidemiológico da sepse em um hospital de urgência. Revista Prevenção de Infecção e Saúde, v. 1, n. 1, p. 19-30, 2015.

SÃO PEDRO, Taís da Costa; MORCILLO, André Moreno; BARACAT, Emílio Carlos Elias. Etiologia e fatores prognósticos da sepse em crianças e adolescentes admitidos em terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva, v. 27, n. 3, p. 240-246, 2015.

SINGER, Mervyn et al. The third international consensus definitions for sepsis and septic shock (sepsis-3). Jama, v. 315, n. 8, p. 801-810, 2016.

SINGER, Pierre; COHEN, Jonathan D. The Surviving Sepsis Campaign guidelines: should we follow?. The Israel Medical Association journal: IMAJ, v. 13, n. 11, p. 692, 2011.

SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo et al. Sepsis: an update. Revista Brasileira de terapia intensiva, v. 23, n. 2, p. 207-216, 2011.

SITNIK, Roberta et al. SeptiFast for diagnosis of sepsis in severely ill patients from a Brazilian hospital. Einstein, v. 12, n. 2, p. 191-196, 2014.

SOGAYAR, Ana MC et al. A multicentre, prospective study to evaluate costs of septic patients in Brazilian intensive care units. Pharmacoeconomics, v. 26, n. 5, p. 425-434, 2008.

TAEB, Abdalsamih M.; HOOPER, Michael H.; MARIK, Paul E. Sepsis: Current Definition, Pathophysiology, Diagnosis, and Management. Nutrition in Clinical Practice, 2017. Disponível em: <http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0884533617695243>. Acesso em: 30 Mar. 2017.

TORIO, C. M.; ANDREWS, R. M. National inpatient hospital costs: the most expensive conditions by payer, 2011. Healthcare Cost and Utilization Project Statistical. 2013. Disponível em: <https://www.hcup-us.ahrq.gov/reports/statbriefs/sb160.jsp>. Acesso em: 04 Maio 2017.

VALLÉS, Jordi et al. Community-acquired bloodstream infection in critically ill adult patients: impact of shock and inappropriate antibiotic therapy on survival. CHEST Journal, v. 123, n. 5, p. 1615-1624, 2003.

VERONESI, R.;FOCACCIA, R.;Tratado de Infectologia. 5.ed. São Paulo: Atheneu, 2015. 1342 p.

VINCENT, Jean-Louis et al. Sepsis in European intensive care units: results of the SOAP study. Critical care medicine, v. 34, n. 2, p. 344-353, 2006..

WILLIAMS, Julian M. et al. Systemic Inflammatory Response Syndrome, Quick Sequential Organ Function Assessment, and Organ Dysfunction: Insights From a Prospective Database of ED Patients With Infection. CHEST Journal, v. 151, n. 3, p. 586-596, 2017.

WOLFF, Polyanna. SEPSE. Revista UNIPLAC, v. 4, n. 1, 2016. Disponível em: <http://revista.uniplac.net/ojs/index.php/uniplac/article/view/2315>. Acesso em: 04 Maio 2017.

ZANON, Fernando et al. Sepse na unidade de terapia intensiva: etiologias, fatores prognósticos e mortalidade. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 20, n. 2, p. 128-134, 2010.

Published

2020-08-03

How to Cite

Pires, H. F. de M., Pereira, F. C., Ribeiro, M. da S., & Silva, J. D. G. da. (2020). Sepse em unidade de terapia intensiva em um hospital público: estudo da prevalência, critérios diagnósticos, fatores de risco e mortalidade / Sepsis in an intensive care unit in a public hospital: study of prevalence, diagnostic criteria, risk and mortality factors. Brazilian Journal of Development, 6(7), 53755–53773. https://doi.org/10.34117/bjdv6n7-862

Issue

Section

Original Papers