Paracoccidioidomicose com falsa positividade do líquido espinhal para Cryptococcus: relato de caso / Paracoccidioidomycosis with false spinal fluid positivity for Cryptococcus: case report

Authors

  • Ana Lara Navarrete Fernandez Brazilian Journals Publicações de Periódicos, São José dos Pinhais, Paraná
  • Paulo Afonso Mei
  • Juliana Ribeiro Ferreira
  • Júlia Ribeiro Ferreira
  • Gabriel Navarrete Fernandez
  • Luis Augusto Guedes de Mello Dias
  • Otto Albuquerque Beckedorff
  • Ygor Ferreira Brasil

DOI:

https://doi.org/10.34119/bjhrv4n1-244

Keywords:

Sistema nervoso central. Criptococose. Infecção fúngica. Neurocriptococose. Neuroimagem. Neuroparacoccidioidomicose. Paracoccidioides brasiliensis. Paracoccidioidomicose.

Abstract

Introdução: A paracoccidioidomicose (PCM) é uma doença fúngica sistêmica causada pelo fungo dismórfico paracoccidioides brasiliensis. Apresenta alta prevalência na América do Sul, principalmente no Brasil, que concentra 80% dos casos notificados no continente. O envolvimento isolado do sistema nervoso central (SNC) não é a forma mais frequente, representando cerca de 10-25% dos casos, e se manifesta em duas formas principais: meníngea ou pseudotumoral. Portanto, o objetivo do presente estudo é apresentar um caso de PCM com acometimento do SNC, a fim de alertar para a importância do diagnóstico e tratamento precoces no prognóstico dessa doença. Relato do caso: Mulher, 55 anos, deu entrada no Pronto-Socorro com queixa principal de fraqueza progressiva do lado esquerdo. O exame físico revelou hemiparesia esquerda. O líquido cefalorraquidiano (LCR) apresentava líquido levemente xantocrômico, com aumento expressivo de proteínas, perfil de hipergamia, normoglicemia, imunoglobulina G elevada e aumento de leucócitos, principalmente linfomonocíticos. Bacterioscopia, culturas para fungos e micobactérias foram negativas. A Ressonância Magnética (RM) revelou lesões hiperintensas na transição mesencéfalo-pontina e no hemisfério cerebelar direito, ambas de etiologia incerta. Um mês após a admissão, houve positividade do antígeno criptocócico no LCR e foi iniciado tratamento com os antifúngicos Fluconazol e Anfotericina B. Apesar do tratamento, a paciente evoluía com piora do quadro, tendo começado a manifestar espasmos clônicos faciais e surgido trombose sinusal. Por esse motivo, optou-se por biópsia, que revelou a presença de paracoccidioides, sugerindo reação cruzada com falsa positividade do líquido espinhal para Cryptococcus. O paciente evoluiu para coma irreversível e faleceu poucos dias depois. Discussão: O envolvimento do SNC foi sugerido pela primeira vez em 1919, mas foi somente a partir dos anos 60 que essa forma de apresentação começou a ser estudada com mais profundidade. A frequência desse envolvimento tem variado amplamente entre os vários autores. A maioria dos pacientes com envolvimento do SNC tem doença disseminada e é bastante incomum que este seja o único órgão afetado. Em geral, a análise do LCR é normal ou pode apresentar pleocitose leve com predomínio de células linfomononucleares ou aumento de proteínas, com baixa sensibilidade e especificidade. Além disso, a pesquisa sobre o parasita, seja por exame direto ou cultura, raramente é positiva. Os métodos imuno-histoquímicos podem ser positivos no LCR, porém esse achado não implica necessariamente em dano ao SNC, podendo ocorrer reações cruzadas, principalmente com Histoplasmose e Criptococose. Conclusão: O envolvimento do SNC na Paracoccidioidomicose é mais frequente do que se supunha até recentemente. Seu diagnóstico é particularmente difícil, pois muitos casos só são desvendados após cirurgia e estudo anatomopatológico, devendo ser incluídos no diagnóstico diferencial de meningoencefalites e tumores do SNC, principalmente em pacientes de áreas endêmicas e com evidência clínica de infecção. Este relato de caso suscita a necessidade de se considerar a possibilidade de uma reação cruzada com outro fungo, gerando falsos positivos, em pacientes com infecções do SNC.

References

Brummer E, Castaneda E, Restrepo A. Paracoccidioidomycosis: An update. Clin Microbiol Rev. 1993; 6:89-117.

Almeida SM, Queiroz-Telles F, Teive HA, Ribeiro CE, Werneck LC. Central nervous system paracoccidioidomycosis: clinical features and laboratorial findings. J Infect. 2004; 48:193-8.

Elias J, Jr, dos Santos AC, Carlotti CG, Colli BO, Canheu A, Matias C, et al. Central nervous system paracoccidioidomycosis: Diagnosis and treatment. Surg Neurol. 2005; 63:13-21.

Fagundes-Pereyra WJ, Carvalho GTC, Go?es AM, Lima e Silva FC, Sousa AA. Paracoccidioidomicose do sistema nervoso central: ana?lise de 13 casos. Arq Neuropsiquiatr 2006; 64(2- A):269-276.

Martinez R. Blastomicose Sul-Americana. In: Veronesi R, Focaccia R. Veronesi tratado de infectologia. São Paulo: Atheneu;1999. p.1081-111. ?

Clemons KV, Stevens DA. Interactions of mammalian steroid hormones with Paracoccidioides brasiliensis: estradiol receptor binding and mediation of cellular functions. Interciencia. 1990; 15:206-8. ?

Pedroso Vinicius Sousa Pietra, Vilela Márcia de Carvalho, Pedroso Enio Roberto Pietra, Teixeira Antônio Lúcio. Paracoccidioidomicose com comprometimento do sistema nervoso central: revisão sistemática da literatura. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. [Internet]. 2009 Dec [cited 2019 Sep 11] ; 42( 6 ): 691-697.

Franco M, Peracoli MT, Soares A, Montenegro R, Mendes RP, Meira DA. Host-parasite relationship in paracoccidioidomycosis. Curr Top Med Mycol 1993; 5: 115-49.

Benard G, Hong MA, Del Negro GM, Batista L, Shikanai-Yasuda MA, Duarte AJ. Antigen-specific immunosuppression in paracoccidioidomycosis. Am J Trop Med Hyg 1996; 54(1): 7-12.

Calvi SA, Peraçoli MT, Mendes RP, et al. Effect of cytokines on the in vitro fungicidal activity of monocytes from paracoccidioidomycosis patients. Microbes Infect 2003; 5(2): 107-13.

Plá MDP, Hartung C, Mendoza P, Stukanoff A, Moreno MJ. Neuroparacoccidioidomycosis: case reports and review. Mycopathologia 1994;127: 139-144.

Nóbrega JPS, Mattosinho-França LC, Spina-França A. Neuroparacoccidioidomicose. In Del Negro G, Lacaz CS, Fiorilho AM (eds). Paracoccidioidomicose. São Paulo: Savier - Ed. da Universidade de São Paulo 1982:221-227.

Bivanco, F. C., et al. Criptococcosis cutis. Dermatology Service (Skin Institute), ABC Medical School. Arq Med ABC. 2006; 31(2):102-9

Consenso em criptococose: 2008. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. [Internet]. 2008 Oct [cited 2019 Sep 11] ; 41( 5 ): 524-544.

Vijayan T, Chiller T, Klausner JD. Sensitivity and specificity of a new cryptococcal antigen lateral flow assay in serum and cerebrospinal fluid. MLO Med Lab Obs. 2013;45(3):16–20.

Bahr, N.C., et al., Cryptococcal meningitis is a cause for cross-reactivity in cerebrospinal fluid assays for anti-Histoplasma, anti-Coccidioides and anti-Blastomyces antibodies. Mycoses, 2019. 62(3): p. 268-273.

Published

2021-02-18

How to Cite

FERNANDEZ, A. L. N.; MEI, P. A.; FERREIRA, J. R.; FERREIRA, J. R.; FERNANDEZ, G. N.; DIAS, L. A. G. de M.; BECKEDORFF, O. A.; BRASIL, Y. F. Paracoccidioidomicose com falsa positividade do líquido espinhal para Cryptococcus: relato de caso / Paracoccidioidomycosis with false spinal fluid positivity for Cryptococcus: case report. Brazilian Journal of Health Review, [S. l.], v. 4, n. 1, p. 3072–3080, 2021. DOI: 10.34119/bjhrv4n1-244. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/24846. Acesso em: 29 mar. 2024.

Issue

Section

Original Papers