O movimento pela humanização do parto e nascimento no Brasil: o impacto em Uberlândia segundo a percepção dos enfermeiros / The movement for humanization of birth and birth in Brazil: the impact in Uberlândia according to the perception of nurses
Abstract
Introdução: O parto é um processo fisiológico natural e na maior parte dos casos não há necessidade de intervenções, exceto nos casos de gravidez de risco. No entando, apesar de a maioria das gestações evoluir naturalmente e sem ricos para a parturiente e a criança, observa-se um numero crescente de intervenções inapropriadas e desnecessárias. Neste sentido o Ministério da Saúde, visando melhorar a qualidade da assistência obstétrica e neonatal, instituiu o Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN). Objetivo: Demonstrar a percepção dos Enfermeiros que atuam na rede de saúde do município sobre o impacto do Movimento pela Humanização do Parto e Nascimento em Uberlândia-MG. Metodologia: Trata-se de um estudo observacional, descritivo, de abordagem quali-quantitativa, no qual foram entrevistados 56 Enfermeiros que atuam na rede pública (38) e privada (18) de Uberlândia-MG, com base em um questionário. Ao discurso dos entrevistados foi aplicada a técnica de análise de conteúdo de Bardin (2009). Resultados: Dos 56 entrevistados 44 (78,6%) eram do sexo feminino e 12 (21,4%) do sexo masculino, a média de idade foi de 34,5 anos, com tempo de formação e de atuação de 5 anos. Todos os entrevistados afirmaram conhecer o PHPN, suas instituições incentivam o parto normal (53,5%), há planejamento individual/antecipado sobre onde e por quem o parto será assistido (67,8%), há avaliação de risco no pré-natal/ reavaliação a cada contato/no momento do parto (85,8%). As mulheres tem direito de escolha do local do parto as vezes (57,14%) ou nunca (28,7%); privacidade no local do parto sempre (41%), as vezes(59%); utiliza o partograma sempre (27%), nunca(73%); usa métodos não farmacológicos de alívio da dor sempre (63%), nunca (37%); estimulo a deambulação (27,2%); escolha da posição não supina as vezes (27,2%) nunca (72,8%); estimula o contato pele a pele (100%); amamentação na primeira hora (90%); permite acompanhante durante todo o processo (45,5%). Dos 18 enfermeiros de instituições que prestam assistência ao parto 14(78%) relataram que o enfermeiro obstetra não tem autonomia para assistir o parto. A análise qualitativa dos dados revelaram que os entrevistados demonstraram compreensão adequada da proposta de Ações que Poderiam Melhorar o Modelo Atual de Assistência ao Pré-Natal e Nascimento, evidenciadas em falas como: “Maior comprometimento dos profissionais e dos gestores no cumprimento da legislação vigente Assistência diferenciada, saber ouvir a parturiente reconhecendo suas necessidades emocionais e psicológicas em todo o processo”. Contudo, na percepção deles, até o momento não houve impacto no referido município em decorrência do movimento pela humanização do parto e nascimento, principalmente por resistência dos próprios profissionais, comodismo, falta de capacitação e apoio institucional. Conclusão: Os resultados demonstram que na visão dos enfermeiros não houve impacto na assistência decorrente do PHPN. Evidencia-se que há um longo caminho a percorrer para que as diretrizes e recomendações do programa de humanização do parto e nascimento sejam adotadas pelos profissionais de saúde como parte integrante no processo de trabalho em rede, incluindo a atenção primária e hospitalar.
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